História e meio ambiente são
dois mundos que devem sim serem interligados para que possamos entender o que ocorre nos dias atuais, os
desafios que o mundo vem enfrentando e as
grandes alterações socioambientais e para entendermos e ajudarmos a melhorar
tais aspectos, precisamos começar a pensar em novos argumentos para velhos hábitos
que os sujeitos de outrora e sua interação para com o meio ambiente.
A historiografia pode ser
utilizada para trabalhar-se de forma multidisciplinar, pois mantém uma ligação
quando o assunto é dialogar com outras áreas do conhecimento. O que falta é uma
sensibilização para tal problema socioambiental e uma melhor divulgação do
conhecimento que fora produzido dentro dos estudos, pesquisas e discussões na
história ambiental, se assim pode-se chama-la.
Como nos afirma o professor Paulo Henrique Martinez, da
Universidade Estadual Paulista de Assis (UNESP – Assis - Sp):
“[...] a história ambiental abre canais de
comunicação e cria situações de diálogo interdisciplinar, como nos estudos
sobre urbanização, agricultura familiar e políticas públicas [...]”
Pode-se observar que até o
começo do que chamamos de século XIX, a sociedade, a humanidade, manteve uma
alusiva harmonia para com o meio ambiente. Com a explosão da Era Industrial, o
acontecimento das Duas Grandes Guerras no Mundo e o crescimento desenfreado da
humanidade podemos observar uma ruptura nesse equilíbrio, que já era frágil,
acarretando então na poluição de rios e mares devido a esgotos urbanos
não-tratados, como, por exemplo, das industrias, cidades litorâneas e
acidentes/naufrágios de navios petroleiros. E quando o assunto é Solo, podemos
falar sobre as queimadas que dificultam o desenvolvimento do solo, prejudicando
não somente as plantas, mas também os microorganismos que vivem e se alimentam
da mesma, uma vez que após tais queimadas a qualidade do solo, causando então a
diminuição do nível de áreas verdes aptas a se desenvolverem, por causa da
inconsequência e ganancia do ser humano.
Martinez é "Inegavelmente, após a Segunda Guerra
Mundial, com a expansão vertiginosa da sociedade de consumo de massa, foi
tomando corpo a percepção e a consciência crescente de um fenômeno complexo,
interligado e de dimensões globais. Os problemas intrigavam historiadores,
gestores públicos, cientistas, artistas e a população em geral".
Sabe-se que a partir do inicio do século
XX, o que conhecemos como historiografia brasileira sobre a temática de meio
ambiente, se redefiniu. A quebra de velhos paradigmas e de velhos hábitos,
juntamente com uma estruturação de uma nova linha de pesquisa sobre o assunto,
foi de extrema importância para o começo das discussões das novas formas de
aplicabilidades no cotidiano.
Segundo a professora do curso de gestão
ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, Silvia
Helena Zanirato, afirma que "A temática
ambiental é essencialmente interdisciplinar e somente a somatória de
conhecimentos pode favorecer a superação da crise ambiental. O papel da
história, nesse contexto, é buscar compreender e explicar os processos que
contribuem para essa crise, a qual, sabemos, está baseada no sistema de
produção e consumo da Modernidade"
Além de discutir-se sobre o assunto,
precisamos de novas possibilidades (aplicáveis) para que novos estilos de vida,
mais alinhados com a natureza, hábitos de consumo e uma forma de seguir em
direção a um novo modelo de sociedade, seja criado, tendo o minimo de impacto
ao meio ambiente, lembrando que o que precisa ser mudado inicialmente não é a
parte física do meio ambiente, mas sim uma conscientização cultural.
Temos que nos países mais
pobres os problemas ambientais começam pela “colonização” que certos países
mais ricos fazem com esses mais frágeis. Com isso surge o desmatamento
acelerado, os baixos investimentos do governo, a exploração abusiva, a
degradação dos recursos hídricos e da destruição do solo devido a rápida extração de recursos nas áreas chamadas de rurais.
Quando fala-se de países mais
ricos, além do que já citamos como uma forma de “culpa indireta”, pois são eles
quem usufruem (na maior parte) das extrações e produções do locais, pode-se citar
a poluição, devido as fábricas (industrialização inconsequente) que destroem os
ecossistemas contaminando solo, ar e rios e com isso diretamente a fauna e flora
das regiões das quais pertencem. Temos, por exemplo, a mudança climática, que
não afeta somente o local que tais indústrias estão fisicamente, mas alteram o
mundo inteiro.
Como nos afirma o Professor e Historiador Janes Jorge da Unifesp – SP:
"Acredito que as políticas públicas relativas aos recursos
hídricos, resíduos, biodiversidade, mudanças climáticas e outros temas
ambientais dialogam com o conhecimento científico. Mas ainda são políticas
tímidas diante da dimensão do problema"
Após a
segunda guerra mundial, houve uma maior preocupação e atenção sobre uma nova
fonte de poluição, dada pela radiação. No início da década de 60 Rachel Carson
em seu livro “A Primavera Silenciosa”, procurou alertar e conscientizar a
população sobre os efeitos dos pesticidas no uso agrícola que até os dias
atuais, após 50 anos de preocupação, avisos e estudos, ainda é bastante
utilizado. O panorama
hoje vem sendo transformado, devido os produtores de alimentos orgânicos,
conhecidos popularmente como “famílias orgânicas”; O aumento na produção de
alimentos mais saudáveis no mercado, se deu devido à campanhas e alertas sobre
a importância do uso de materiais não prejudiciais à saúde, o que contribuiu para
o crescimento da consciência coletiva.
No ano de 1972
a ONU (Organização das Nações Unidas) cria uma conferência referente ao
“Ambiente Humano”, em Estocolmo (Suécia). Essa conferência teve seu ápice com a
divulgação de um Decreto que contém 19 princípios, que, hoje, muitos
historiadores chamam de: Manifesto Ambiental. Retiramos um trecho do próprio
site da ONU:
“Chegamos a um ponto na
História em que devemos moldar nossas ações em todo o mundo, com maior atenção
para as consequências ambientais. Através da ignorância ou da indiferença
podemos causar danos maciços e irreversíveis ao meio ambiente, do qual nossa
vida e bem-estar dependem. Por outro lado, através do maior conhecimento e de
ações mais sábias, podemos conquistar uma vida melhor para nós e para a
posteridade, com um meio ambiente em sintonia com as necessidades e esperanças
humanas […] Defender e melhorar o meio ambiente para as atuais e futuras
gerações se tornou uma meta fundamental para a humanidade.”
Trechos da Declaração da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente (Estocolmo,
1972), parágrafo 6.
No ano de 1983, na Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento o tema abordado foi
“desenvolvimento sustentável”, que nada mais é do que a capacidade de
crescimento econômico e a conservação dos recursos naturais e dos ambientes ao
seu derredor para que gerações futuras possam usufruir, atendendo então as
necessidades da humanidade no futuro.
Indo um pouco mais adiante na linha do tempo, temos no ano de
1992, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, a ECO-92, que teve como enfoque as
mudanças climáticas e a necessidade da preservação das florestas que ainda
existem no planeta. Ainda tivemos a Convenção
sobre a Diversidade Biológica que visava a extração de elementos naturais, matérias-primas,
como o ferro, por exemplo, mas com um equilíbrio entre preservação ambiental e
a produção econômica.
Cinco
anos depois, o mundo teve o chamado Protocolo
de Kyoto, no Japão tratado que tinha como finalidade de alertar o aumento
do efeito
estufa e
do aquecimento global, além
disso, acrescentar
aos países mais desenvolvidos, uma meta para a diminuição de gases de dióxido
de carbono (CO2), sendo assim, um freio, digamos assim, pois em suma
maioria eles mantem de forma desenfreada a sua industrialização. Um ponto que
chama muita atenção é que os países que não cumprissem o acordo, não teriam
nenhuma punição para os mesmos. Sendo assim, alguns países não assinaram o
acordo, dentre eles temos os Estados Unidos que eram responsáveis, na época,
por 24% de todo o CO2 produzido no mundo.
Quando o assunto é proteção ou
preservação do meio ambiente, podemos notar que desde o inicio do século XXI,
deixa-se de ser um assunto de um pequeno grupo pessoas, de “românticos”, para
um assunto de abrangência global, onde o assunto abordado são as energias
utilizadas pelo ser humano.
Os acordos formados durante o último
século (XX), “batem na tecla” que as fontes de energia que vem sendo utilizadas
por nós, homo sapiens, deve ser
revista e alterada para uma fonte de energia de forma renovável, pois quando
trata-se de de impacto no meio ambiente temos que lembrar que todos os animais
de todas as especies vão utilizar deste “território” para sobreviver.
O ser humano deve ter consciência
de que tudo nos é dado, tudo o que necessita está disponível, ao alcance de
nossas mãos e isso a “mãe natureza” nos ensina. Entretanto, “falta sapiência
para esse Homo” para que o mesmo possa encontrar um equilíbrio e prover suas
necessidades, lembrando sempre que deve-se procurar formas equilibradas sem que
a fonte se esgote, para todos os animais, incluindo o ser humano e esse mesmo
humano, deve lembrar que não é somente ele que habita essa nave que chamamos de
Terra, e que devemos preservar essas fontes, retirando apenas o que nos é
necessário, não mais do que isso, talvez assim, possa começar a observar que
tudo o que temos é uma dádiva. Porém, para que isso ocorra, devemos mudar,
totalmente, a forma com que enxergamos os elementos da natureza e esse é o
nosso maior desafio dentro deste século. A Educação Ambiental, que poderia ser inclusa
no Ensino Fundamental I e II e no Ensino Médio, poderia intensificar o contato
das crianças com a natureza, talvez permitindo que estas tenham mais cuidado e
amor para com o mesmo, fazendo com que se garanta uma qualidade de vida para
todos no futuro, tirando o pensamento individual e começando a pensar de forma
coletiva.
De forma científica a humanidade
vem concluindo que as fontes de energias que ainda utilizamos estão se tornando
(se já não estão) ultrapassadas ou que já não atendem a real necessidade da
população e que vem levando o planeta a um esgotamento dos recursos
disponíveis.
Grupos criticam outros grupos
apontando-os como responsáveis pelo desgaste atual. Isto é perigoso, pois a
discussão não está no foco necessário, mas sim em uma briga de ego. Não se trata
de encontrarmos culpados e responsabilizarmos os mesmos por tudo que tem
ocorrido, não é esse o objetivo. Temos que nos unir em prol de um objetivo
comum e começarmos a modificar a cultura para que possamos então vencer um dos
maiores embates que são travado dentro deste assunto: Saber viver e conviver,
da melhor forma, ou seja, de forma equilibrada, com o meio ambiente que nos é
ofertador que não temos dado o devido valor.
Gabriel Darezzo Paes - Professor de História e Palestrante
https://www.linkedin.com/in/darezzo/
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